quinta-feira, 26 de março de 2009

Indiferença


A chuva estava batendo na janela – sh, sh – Elas falavam comigo. Falavam calmamente, eu reconhecia aquelas vozes. Gritavam, estavam gritando comigo! Peguei um guarda-chuva e fugi das gotas de água que me perseguiam, pareceu inútil, mas elas realmente estavam me perseguindo (elas ou algo estava ali, seguindo cada passo meu). A chuva parou, os gritos cessaram. – sh, sh – Elas não falavam mais comigo.

Entrei na primeira loja de café que avistei. Sentei-me e tentei me secar. Pedi um café e esperei por ele enquanto tentava me livrar daquelas vozes que voltavam para visitar meus ouvidos.
“Inútil, inútil.” Cinco minutos depois pude tomar meu café e pensar em como ele me esquentava, em como eu não sentia mais aquela sensação com um abraço frívolo de alguém que não se importa. “Eu me importo”. Você se importa com o que hein? Com o que?
Gritei comigo mesmo, as pessoas olharam para mim e se assustaram. Mas eu nunca deixo uma discussão ao meio, continuei discutindo, até que me expulsaram do local.

“Inútil, inútil”. As pessoas são inúteis, assim como eu. Não quero andar, não quero não querer. Sentei-me ali mesmo, no meio da rua. Ah. Como adoro ver as pessoas desesperadas, quando algo sai fora do normal ou quando algo não é planejado elas se desesperam e ficam ainda mais loucas do que eu. Olhavam-me por dentro de seus carros que sujavam o céu e buzinavam, achando que aquele som me assustaria ou me motivaria de alguma forma. Coloquei a mão no bolso, peguei meu cigarro, o acendi com dificuldade pois meu isqueiro estava meio úmido, comecei a fumar. A fumaça me mostrava rostos que eu não queria ver, fechei os olhos e dormi ali, na rua.

Um comentário: